quinta-feira, 22 de março de 2012

Sempre Neruda


ODE AO CALDINHO DE CONGRO

No mar
tormentoso
do Chile
vive o rosado congro,
gigante enguia
de nevada carne.
E nas panelas chilenas,
na costa,
nasceu o caldinho
encorpado e suculento
proveitoso.
Levem para a cozinha
o congro esfolado,
sua manchada pele cede
como uma luva
e ele fica descoberto
então
o cacho do mar
o congro macio
 reluz
já desnudo,
preparado
para nosso apetite.
Agora
recolha
 alhos,
acaricie primeiro
esse marfim precioso,
cheire
sua fragrância irada
então
deixe o alho picado
cair com a cebola
e o tomate
até que a cebola
fique da cor de ouro.
Enquanto isso
cozinham-se ao vapor
os régios camarões marinhos
e quando tenham chegado
ao seu ponto,
quando o sabor coalhou
em um molho
formado pelo sumo
do oceano
e pela água clara
eliminada pela luz da cebola,
 então
que entre o congro
e se submerja na glória,
que na panela
se unte,
se contraia e se impregne.
Agora só é preciso
deixar no manjar
cair o creme
como uma rosa espessa,
e ao fogo lentamente
entregar ao tesouro
até que no caldinho se aqueçam
as essências do Chile,
e à mesa
cheguem recém-casados
os sabores
do mar e da terra
para que neste prato
você conheça o céu.

Poema de Pablo Neruda extraído do fantástico livro de
Isabel Allende  Afrodite: contos receitas e outros afrodisíacos
Editora Bertrand Brasil






Um comentário:

Gilberto disse...

Desculpe a invasão mas está de parabéns pelas Lindas fotos, Adorei seu Blogger . Gilberto